CMCG debate temas relacionados a Luta Antimanicomial durante sessão especial
O presidente da Câmara de Vereadores de Campina Grande, Marinaldo Cardoso (Republicanos), na manhã desta terça-feira (18), em formato híbrido, abriu a Sessão Especial alusiva ao Dia Nacional de Luta Antimanicomial, uma propositura do vereador Carol Gomes (PROS).
A mesa foi formada com a participação do secretário da Saúde, Felipe Reul, Lívia Sales, Coordenadora da Saúde Mental de Campina Grande, Maria do Carmo Eulálio Professora da UEPB e Doutora em Psicologia, Tatiana Almeida, psiquiatra atuante no CAPS, professor da UEPB, Geraldo Medeiros Júnior (formato online). Além dos vereadores participaram ainda da sessão, Josilene Paixão Xavier, coordenadora das Residências Terapêuticas e os residentes dos espaços terapêuticos, Marizio Bernardino e Ivanizete Pinto.
A vereadora Carol Gomes justificou a sua propositura e agradeceu aos componentes da mesa e contextualizou sobre o início do fechamento dos hospitais manicomiais e abertura de serviços substitutivos terapêuticos, em 2004. Ela também fez parte da equipe fundadora do CAPS infantil, e destacou que a luta antimanicomial vem através de familiares, usuários e profissionais de saúde.
Enfatizou que todo ano é necessário debater neste dia, para que os direitos de tratamento digno sejam garantidos. Solicitação de uma busca ativa de crianças com transtornos mentais e implantação de um CAPS no Aluízio Campos. Finalizou com uma mensagem ‘’por uma sociedade sem manicômios, para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça, por uma sociedade sem manicômios. O mundo é para todos, trancar não é para está’’, concluiu.
Marinaldo Cardoso fez as suas considerações antes de repassar a presidência a Carol Gomes, e citou que considera esse tema relevante e necessário de ser debatido na Câmara de Vereadores, além de frisar que os encaminhamentos que surgirem na sessão serão seguidos.
O secretário de Saúde, Felipe Reul fez um agradecimento à todos presentes e aos que estavam acompanhando de forma remota, esclareceu sobre o andamento da abertura do CAPS no Aluízio Campos que já está bem encaminhado e destacou os espaços terapêuticos que já existem para realização de atendimento, tratamento e acompanhamento de pessoas com transtornos mentais no município, informando que são oito CAPS, seis residências terapêuticas, um Centro de Convivência e um Ambulatório de Saúde Mental, no Catolé, que está sendo ampliado. São 20 leitos psiquiátricos no Hospital Municipal Doutor Edgley. O secretário destacou o serviço humanizado que é realizado na rede de saúde mental, com treinamentos, capacitações e ampliação de serviços humanizados em Campina Grande sendo referência na Saúde Mental em todo o Brasil.
Lívia Sales, Coordenadora da Saúde Mental do Município, ressaltou que é um tema importante no âmbito da Saúde Pública e que essa ‘’Luta Antimanicomial’’ remete ao subjetivo, ao pensar – o que é o manicômio? pois falamos além de lugar, de muros, de encarceramento’’ e complementando trouxe um dado sobre a Organização Mundial da Saúde, onde uma em cada duas pessoas passará por um período de vida adverso e precisará de ajuda e tratamento.
Ressaltou que existem inúmeros movimentos mundiais, teorias e escritos, mas trouxe o processo de Campina Grande, onde em 2005 promoveu o maior marco da reforma psiquiátrica brasileira, por meio da intervenção federal do Governo, do Estado, e do Município, transformando os manicômios em tratamentos terapêuticos substitutivos. Falou também sobre a realidade que presenciou em relação ao descaso do tratamento a pessoas portadoras de transtornos mentais e histórias de superação que foram vencidas por meio da abertura de CAPS, da seleção de recursos humanos, inauguração das residências terapêuticas e cadastramento de moradores terapêuticos.
Ela relatou os sofrimentos daqueles que foram jogados no hospital psiquiátrico de Campina Grande, os banhos eram coletivos com detergente, as camas não tinham colchões, eles recebiam punições. Dos 172 pacientes, 49 moravam no local. “Jane passou 30 anos no hospital e teve os dentes extraídos para morder o que via na frente, isso por fome e nunca mais ela mordeu ninguém, uma outra moradora era cega, isto por conta da catarata. Uma história de sofrimento, de conquistas e de vitórias”.
Lívia destacou a realidade atual da pandemia com o aumento de transtornos, crises de ansiedade, com o isolamento social e que é preciso que o Brasil se mantenha contra o confinamento das pessoas portadoras de transtornos mentais. “As pessoas não são coisas, agradeço a esta CASA e em especial ao vereador Olímpio Oliveira que nos apoiou e faz parte desta história”, concluiu.
Rubens Nascimento (DEM) parabenizou Carol pela propositura e disse que Lívia tem o dom da fala e que deveria escrever sobre esse tempo de luta por um atendimento humanizado e o fim dos manicômios.
Olímpio Oliveira (PSL) contribuiu com o debate falando sobre a participação na construção da luta antimanicomial em Campina Grande, destacou a felicidade de poder fazer parte dessa transformação e destacou o Professor Geraldo Medeiros Júnior, que foi um secretário de saúde idealista e esteve à frente respaldando toda a política que seria implantada. Frisou que ‘’o nosso tempo é esse’’ para agir e transformar as realidades.
Destacou que conheceu as residências terapêuticas nas instalações e relembrou que a realidade que as pessoas viviam antes, eram semelhantes aos campos de concentração. Além disso, citou a gestão de Bruno Cunha Lima, por reconhecer a importância de Lívia Sales como coordenadora, e pelas demais contribuições no âmbito da saúde mental.
O professor Geraldo Medeiros Júnior, economista e secretário de Saúde de Campina Grande em 2005, ressaltou que pode participar de uma história que o emociona, mesmo tendo passado a 16 anos. Citou que a economia só existe para produzir, distribuir e proporcionar o consumo das pessoas, onde economia e administração são políticas.
Falou sobre a situação de Campina Grande que tinha um sistema que pouco investia em espaços que evitassem que as pessoas adoecessem, onde a população vivia muito pouco, sendo preciso investigar o motivo da realidade neste município.
Trouxe também a realidade das pessoas internadas no hospital psiquiátrico de Campina Grande e de alguns momentos que pode presenciar, marcando as transformações após as mudanças na forma como lidava com a saúde mental.
Ele contou da visita de duas psicólogas preocupadas com a situação das pessoas nos hospitais psiquiátricos e foi visitar o hospital e ver pessoas que não eram tratadas como gente e que era preciso fazer alguma coisa. O hospital foi interditado e as pessoas passaram a viver em residências terapêuticas. “Dois fatos me impactaram muito, um cafezinho feito por uma paciente depois que saiu do hospital e amores iniciados, que não seriam possíveis no hospital. Lívia Sales e Maria Vitória Barbosa, eram as jovens psicólogas que me visitaram”.
Maria do Carmo Eulálio Professora da UEPB e Doutora em Psicologia – fez a leitura de um trecho do livro Ernesto Venturino. Falou sobre a parceria da UEPB com o serviço de saúde de Campina Grande, resultando em livros e cursos, com relevância acadêmica e social. Destacou que é necessário existir uma política de manutenção do que dá certo e melhorias e crescimento no que é necessário.
Tatiana Almeida Psiquiatra atuante no CAPS trouxe sua experiência de chegada na cidade de Campina Grande e sobre a formação de um médico psiquiátrica, citou a Lei 10.216 que garante os direitos da pessoa portadora de transtorno mental: ter acesso ao melhor sistema de saúde de acordo com suas necessidades, mas frisou que os pacientes que chegam até o CAPS, não tem direito ainda de ser atendido diretamente por um psiquiatra.
Destacou que existem casos que realmente precisam de internação, diante da complexidade de cada paciente e que apesar da evolução no tratamento de pessoas portadoras de doença mental de Campina Grande considera que ainda pode haver melhorias.
Ivanizete Pinto de Andrade e Marizio Bernardino, residentes do hospital psiquiátrico, contaram um pouco sobre as suas histórias pessoais nesse processo de reforma psiquiátrica em Campina Grande.
Ivanizete contou que veio para Campina Grande do Sertão, e que as cinco horas da manhã era acordado para o banho, ‘’não era banho, era exame de choque. ’’ Além disso, contou sobre as condições de alimentação onde a comida era apenas soja, sem verduras, apenas água. Hoje, tem carne de gado, tem galinha’’. Também contou que o hospital ficou seis meses sem remédios, e que as camas eram de ferro, com ripas, e sem lençóis.
Marízio também ressaltou as condições da instituição, onde ‘’não tinha colchão, dormíamos em cima das tábuas e que ‘’sofremos muito lá no começo, mas no final eu fiquei em uma ala aberta que eu poderia ir para padaria’’. Contou que agora, diferente da realidade anterior, tem celular, televisão, mesa, quarto individual, roupas, alimentação e mesada. Lívia explicou que essa mesada é do Programa de Volta para Casa do Governo Federal.
Jô Oliveira (PC do B) agradeceu a CASA pelo debate do dia-a-dia e que os moradores da Residência Terapêutica falaram muito bem e que ficou impactada e parabenizou Carol pela pauta.
Dona Fátima (PODE) parabenizou Carol pela pauta, agradeceu a Lívia dizendo que ela é um anjo e que foi escolhida para este trabalho e que um passo muito grande foi dado por Dr. Geraldo quando era secretário de Saúde. E agradeceu ao secretário Felipe Reul, ao vereador Olímpio a primeira Dama, Juliana Cunha Lima, e a todos os participantes da sessão.
Fabiana Gomes (PSD) destacou os temas relevantes que estão sendo debatidos na CMCG, agradeceu a todos os presentes e falou da necessidade de um psicólogo nas UBS e recomendou o filme ‘Bicho de Sete Cabeças’.
Anderson Almeida (PODE) também contribuiu para o debate falando da sua experiência como advogado criminalista e que procurou entender um pouco da mente daqueles que cometem delitos. Que leu a respeito do Holocausto brasileiro em Minas Gerais, que visitou o Juliano Moreira em João Pessoa e tomou conhecimento da forma desumana que essas pessoas passaram em Campina Grande. É preciso humanizar o tratamento. Parabenizou o secretário Felipe Reul e a todos os profissionais da Saúde Mental.
A vereadora Eva Gouveia (PSD) também parabenizou Carol pela propositura da sessão e elogiou as ações dos profissionais da área da saúde que atuam nos CAPS. Para Eva, “a criação dos CAPS foi de fundamental importância no combate ao preconceito que levava ao isolamento pessoas com problemas mentais”, disse.
Carol Gomes agradeceu ao secretário de Saúde, a Lívia e a todos os participantes do debate e encerrou a sessão com a frase “por uma sociedade sem manicômio, o mundo é para todos “.
A vereadora Carol, convidou a todos para participar e/ou acompanhar a sessão ordinária da quarta-feira,19, de maneira híbrida com transmissão ao vivo pela TV CâmaraCG (www.camaracg.pb.gov.br), ou pelos canais sociais do CamaraCG Oficial, no Facebook e Youtube, com início às 9h30.
DIVICOM/CMCG